Jair Bolsonaro não pode reclamar de escassez. Neste momento, tem com ele todo tipo de problema. É eleição barrada, PF na sua cola, ex-amigo delator, centrão debandando pro lado de Lula, apoiador preso por tentativa de golpe.
Nada indica que essa fase de sufoco passará. Mas há um alento. Até agora, tal fartura de adversidades foi absolutamente incapaz de mover o eleitorado bolsonarista. Se foge à lógica Jair ser “imorrível”, como ele gostava de dizer, sua militância dá provas de que, sim, é “imexível”.
A base bolsonarista fincou raízes e segue representando um naco de 25% dos eleitores, mostrou o instituto Datafolha. É o mesmo porcentual do ano passado, aferido no calor do pós-eleição. Aos poucos, vai ficando evidente que Bolsonaro forjou uma relação com parte do eleitorado difícil de ser trincada.
Essa fidelidade — ao menos até agora - emula a fortaleza que o lulismo demonstrou mesmo em momentos nos quais o atual presidente amargava crises em série e estava na mira da Lava Jato. Os que se dizem petistas convictos compõem um grupo apenas ligeiramente maior que os bolsonaristas. De acordo com a mesma pesquisa, são 29%. Considerando a margem de erro, temos um país cindido.
Pode não ser novidade a constatação que o País rachou. Mas, se o lulismo foi colocado a dura prova e resistiu, ainda assistimos ao teste de força de Bolsonaro. Neste momento, os números do Datafolha reforçam a ideia de que Jair é uma liderança de extrema-direita que, a despeito das muitas complicações, tem fôlego para ficar.
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É por isso que parte do mundo político pode até torcer o nariz, mas ainda hesita em decretar o momento no qual Bolsonaro se tornará um político “tóxico”. Seria a partir da delação de Mauro Cid? “Depende do que ele disser. Muito cedo ainda”, me alerta um experiente político.
É também por isso que o PL tem dobrado a aposta em se adonar da simbologia bolsonarista. Tem feito isso nos discursos, peças publicitárias, inserções na TV. Pesquisas internas da legenda já apontavam para o cenário externado pelo Datafolha. As sondagens indicavam que não há mensagem golpista ou venda de joias que abale a confiança do militante de Bolsonaro.
Que ninguém se engane: o PL é um partido “centrão raiz”. Já esteve com Lula. Agora, está com Bolsonaro. A legenda se viu, no pós-eleição, alçada ao posto de maior sigla de oposição do País e lá tem permanecido não por convicção, mas de olho em dividendos. Escândalo após escândalo, a legenda tem refeito suas contas e o resultado tem sido o de que ainda tem muito a ganhar.
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